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E agora?

Por quatro meses, mantivemos nosso compromisso inicial de apresentar a tradução em progresso da sátira 2 de Juvenal, bem como de comentário que, na hora da tradução, parecia importante para esclarecimento e para formulação de hipóteses interpretativas.  O trabalho adquiriu um ritmo mais ou menos semanal, naturalmente se ajustando aos demais compromissos da complicada vida pandêmica. Optamos por não fazer revisão do trabalho antes de seu encerramento, motivo pelo qual certas descontinuidades são hoje perceptíveis na interpretação. O projeto alcançou resultados interessantes na sua relação com a recepção: recebemos bons retornos da comunidade, alguns dos quais inclusive em forma de comentários públicos. Agora, passaremos a acolher as sugestões e fazer os ajustes à tradução e aos comentários. A mais geral e relevante, ao nosso ver, diz respeito à metodologia do comentário. De fato, alinhados com a simplicidade da ferramenta que é o blog (e premidos pela pressa de digitar em teclados de

Versos 163-170

  ]"Um, porém, O armênio Zálates, mais frouxo dos efebos Diz-se que se entregou pra um ardente tribuno." Olha o comércio das Nações: veio em custódia, Virou homem aqui. Pois se em Roma mais tempo Aos meninos se der, não faltarão amantes. Deixem as calças, facas, freios e flagelos: Voltam a Artáxata com hábitos togados.      ]"et tamen unus Armenius Zalaces cunctis narratur ephebis mollior ardenti sese indulsisse tribuno." 165 aspice quid faciant commercia: uenerat obses, hic fiunt homines. nam si mora longior urbem indulsit pueris, non umquam derit amator. mittentur bracae, cultelli, frena, flagellum: sic praetextatos referunt Artaxata mores.    Um último esforço de amor-próprio será empreendido por um desses hipócritas romanos: apontar que, mesmo concedendo a existência de tantos vícios de Roma, pode-se encontrar costumes piores entre os estrangeiros. Esse seria o caso de Zálates, armênio de costumes efeminados, de quem circulava que se entregou a um tribuno.

Versos 159-163

Pobres de nós, nos trazem onde!? Armas além Da costa iverna conduzimos, mal tomamos Britanos e Órcades na curta noite alegres Mas o que faz o povo vencedor em Roma Os vencidos por nós não fazem. ["Um, porém, illic heu miseri traducimur. arma quidem ultra litora Iuuernae promouimus et modo captas. 160 Orcadas ac minima contentos nocte Britannos, sed quae nunc populi fiunt uictoris in urbe non faciunt illi quos uicimus. [ "Et tamen unus A argumentação vem do passado ao presente com um verbo de movimento ( traducimur , que traduzimos por 'nos trazem'): arrastados desse passado, nós (os ancestrais heroicos ou os contemporâneos de Juvenal, somos propositadamente colocados numa ambiguidade) temos que assistir à degradação dos costumes. O cúmulo desse cenário é que os romanos (subentenda-se, os civilizados) dominam os britanos (que são, para o período, o extremo oposto da civilização, o protótipo da barbárie), mas nenhum povo dominado pelos romanos comete as barbaridade

Versos 153-158

Mas finge que é real: que sente Cúrio, os dois Cipiões, de Camilo os manes, ou Fabrício, De Cremera a legião, jovens mortos em Canas Tantas almas das guerras, sempre que lhes chegam Vultos assim? Desejam purga, se houver No enxofre com pinheiro e no úmido loureiro. sed tu uera puta: Curius quid sentit et ambo Scipiadae, quid Fabricius manesque Camilli, quid Cremerae legio et Cannis consumpta iuuentus, 155 tot bellorum animae, quotiens hinc talis ad illos umbra uenit? cuperent lustrari, si qua darentur sulpura cum taedis et si foret umida laurus. Tendo afirmado que ninguém acredita mais nas narrativas sobre o pós-morte da religião romana, Juvenal pede um exercício de imaginação: faz de conta que são histórias reais e os mortos do passado ainda estão em sombras em algum lugar. A partir disso, começa a invocação dos ancestrais: os nomes arrolados (Cúrios, Cipiões, Fabrício, Camilo, os membros da família Fábia mortos em Cremera, os soldados massacrados na batalha de Canas, durante as

Versos 143-152

Tal monstro, Graco vence com tridente e túnica, Gladiador que foge no meio da arena Mais nobre que Marcelo ou Capitolino, Que os Cátulos, os Fábios, a estirpe de Paulo E todo o camarote, mesmo que entre todos Juntes o autor do jogo em que ele joga a rede. Que existem outros manes, reinos subterrâneos, Cocito e negras rãs nos abismos do Estige E uma só barca cruza tantos mil num rio Nem as crianças creem, só se não pagam banhos. uicit et hoc monstrum tunicati fuscina Gracchi, lustrauitque fuga mediam gladiator harenam et Capitolinis generosior et Marcellis. 145 et Catuli Paulique minoribus et Fabiis et omnibus ad podium spectantibus, his licet ipsum admoueas cuius tunc munere retia misit. esse aliquos manes et subterranea regna, Cocytum et Stygio ranas in gurgite nigras, 150 atque una transire uadum tot milia cumba nec pueri credunt, nisi qui nondum aere lauantur. Aqui, a mudança de tema confirma que, embora o objeto do poema passe pela sexualidade, ele trata mais amplamente de val

Versos 132-142

'Amanhã Vou cedo a cerimônia, ao vale de Quirino.' 'O que celebram?' 'O quê? Põe véu meu amigo, Muitos não convidou.' Se eu vivo mais, farão, Farão às claras, pedirão que conste em ata. Nesse ínterim, tormento enorme aflige as noivas Pois não podem parir e assim prender marido. O bom é que nenhum poder da alma no corpo Concede a natureza e estéreis também morrem. Não serve Lide inchada co' a caixa de unguento Nem serve dar as mãos a luperco ligeiro. ]‘Officium cras primo sole mihi peragendum in valle Quirini.’ ‘quae causa officii?’ ‘quid quaeris? nubit amicus nec multos adhibet.’ liceat modo vivere, fient, 135 fient ista palam, cupient et in acta referri, interea tormentum ingens nubentibus haeret quod nequeant parere et partu retinere maritos, sed melius, quod nil animis in corpora iuris natura indulget: steriles moriuntur, et illis. 140 turgida non prodest condita pyxide Lyde, nec prodest agili palmas praebere luperco. Nessa parte, Juvenal f