Versos 159-163

Pobres de nós, nos trazem onde!? Armas além
Da costa iverna conduzimos, mal tomamos
Britanos e Órcades na curta noite alegres
Mas o que faz o povo vencedor em Roma
Os vencidos por nós não fazem. ["Um, porém,

illic heu miseri traducimur. arma quidem ultra
litora Iuuernae promouimus et modo captas. 160
Orcadas ac minima contentos nocte Britannos,
sed quae nunc populi fiunt uictoris in urbe
non faciunt illi quos uicimus. [ "Et tamen unus

A argumentação vem do passado ao presente com um verbo de movimento (traducimur, que traduzimos por 'nos trazem'): arrastados desse passado, nós (os ancestrais heroicos ou os contemporâneos de Juvenal, somos propositadamente colocados numa ambiguidade) temos que assistir à degradação dos costumes. O cúmulo desse cenário é que os romanos (subentenda-se, os civilizados) dominam os britanos (que são, para o período, o extremo oposto da civilização, o protótipo da barbárie), mas nenhum povo dominado pelos romanos comete as barbaridades que eles cometem.

Esse é o cerne da crítica de Juvenal: Roma não consegue ser a cidade que foi nem viver segundo os valores que diz crer, que ironicamente só são praticados pelos povos dominados (ou até melhor pelos insubmissos, já que, não custa lembrar, os povos da Ivérnia - os irlandeses - e das Órcades - os escoceses - nunca chegam a ser dominados por Roma). Assim, é inevitável que a hipocrisia se torne recorrente na urbs e, juntando as pontas do longo poema satírico, seja preferível estar junto aos longínquos sármatas que entre os ambíguos romanos.

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