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Mostrando postagens de junho, 2020

Versos 18-22

Sua abertura é deplorável, mesmo a Insânia Perdoa; já os piores, que invadem tais partes Com falas de Hércules, após narrar virtudes, Mexem a raba. " Respeitar Sexto enrabado?" Diz o infame Varilo, " eu s ou pior que tu?" Horum simplicitas miserabilis, his furor ipse dat veniam; sed peiores, qui talia verbis Herculis invadunt et de virtute locuti clunem agitant, ‘ego te ceventem, Sexte, verebor?’ infamis Varillus ait ‘quo deterior te?’ Continua aqui a contraposição entre os hipócritas e a simplicitas de Peribômio, termo delicado, que comporta os sentidos de simplicidade, franqueza, inocência. Escolhi abertura porque me ofereceu comportar tanto a franqueza que Juvenal já havia descrito no verso 17,  mas também a noção de disponibilidade, já que, sendo potencialmente um sacerdote eunuco, tem que se dispor à torpeza do intercurso passivo para ter uma relação. Por isso é triste e se releva: já se sabe que ele não tem escolh

Versos 14-17

Rara a palavra e grande o tesão de calar, Mais curto é seu cabelo que os cílios. Assim, Mais vero e honesto é Peribômio, a quem eu livro Do dito, pois confessa no rosto a doença. rarus sermo illis et magna libido tacendi atque supercilio breuior coma. uerius ergo               15 et magis ingenue Peribomius; hunc ego fatis inputo, qui uultu morbum incessuque fatetur. Aqui, pode- se pensar em uma discreta definição dos falsos filósofos como estoicos. A interpretação é um atalho, já sugerido pelos nomes de Cleantes e Crisipo como patronos das bibliotecas, mas  também por comportamentos aparentemente associados a essa corrente filosófica. Ter os cabelos curtos parece ser um t raço distintivo desse grupo, como sugere Pérsio  na sátira 3, e o policiamento do discurso é abordado pelo mesmo poeta na sátira 5. O estoicismo seria um alvo fácil, dado que era ao mesmo tempo uma escola popular e objeto de perseguição do imperador Domiciano, o que poderia r

Versos 1-13

Esse trecho figura em muitas discussões teóricas sobre o gênero satírico, dado que é tido como uma das principais exposições metalinguísticas do programa poético de Juvenal. O alvo da sátira são os hipócritas, que aqui são agudamente descritos. Vv. 1-3 Mais além da Sarmácia e do Mar Glacial Quero fugir se coisas moralistas ousa Quem simula ser Cúrio e vive em bacanais. Vltra Sauromatas fugere hinc libet et glacialem Oceanum, quotiens aliquid de moribus audent qui Curios simulant et Bacchanalia uiuunt. O traço da indignação da persona satírica é apresentado no verso 1, antes mesmo de que se conheça o objeto desse afeto: é melhor fugir para os piores buracos que os romanos conhecem a tolerar os hipócritas. A conformação geográfica é um bom ponto de partida para a proposição da sátira, como se pode ver, em Juvenal, também na sátira 10. Deve-se explicar que por Oceanus (que traduzimos como mar , por economia), os romanos nomeavam a extens

Os critérios desta tradução

A presente tradução seguirá os mesmos critérios que usualmente aplicamos à tradução de poesia hexamétrica latina, especialmente em nossa tradução de Pérsio, modelo imediato, embora inconfesso, de Juvenal, mas também nos muitos hexâmetros que integram a polimetria de Marcial e num primeiro canto da Eneida que ainda mantemos inédito: traduzimos homeometricamente cada hexâmetro por um dodecassílabo, acentuado na sexta sílaba ou na quarta e na oitava, padrões mais habituais de acentuação interna desses versos em português. Por vezes conseguimos produzir o dodecassílabo anapéstico (acentuado na terceira, sexta, nona e décima segunda sílabas) ou o alexandrino (acentuado na sexta com cesura após o acento). Tal variação emula a alternância rítmica que o hexâmetro pode apresentar em suas substituições de dátilos por espondeus. Como já sabia o Castilho, um dos primeiros defensores desse metro e o primeiro a usá-lo em uma tradução, o metro acomoda bem a disposição das palavras latinas, s

Sobre esse projeto

Há uns quinze anos, um escritor brasileiro contemporâneo (que, ironicamente, não me lembro qual foi - agradeço se alguém lembrar) desenvolveu um projeto muito interessante: escreveu um romance inteiramente online, aberto, num blog. A ideia era muito bacana: propiciar aos seus leitores que acompanhassem o processo criativo, as alterações, o desenvolvimento, e ainda opinassem - e potencialmente interferissem no andamento da narrativa. A única regra que me desagradou era que, ao final do processo, a página seria apagada da internet para que não interferisse na publicação do livro físico. Bem se vê que não acompanhei a redação do tal livro (nem sei se chegou efetivamente a virar livro), ou me lembraria de seu autor, mas me fascinei pela desenvoltura e pela coragem de expor o processo espontaneamente, o sujeitar-se aos gostos do público com o alimento ainda não cozido, e até pelo que eu achava um risco que ele corria de perder o livro, do ponto de vista comercial, pois o seu público