Os critérios desta tradução

A presente tradução seguirá os mesmos critérios que usualmente aplicamos à tradução de poesia hexamétrica latina, especialmente em nossa tradução de Pérsio, modelo imediato, embora inconfesso, de Juvenal, mas também nos muitos hexâmetros que integram a polimetria de Marcial e num primeiro canto da Eneida que ainda mantemos inédito: traduzimos homeometricamente cada hexâmetro por um dodecassílabo, acentuado na sexta sílaba ou na quarta e na oitava, padrões mais habituais de acentuação interna desses versos em português. Por vezes conseguimos produzir o dodecassílabo anapéstico (acentuado na terceira, sexta, nona e décima segunda sílabas) ou o alexandrino (acentuado na sexta com cesura após o acento). Tal variação emula a alternância rítmica que o hexâmetro pode apresentar em suas substituições de dátilos por espondeus.

Como já sabia o Castilho, um dos primeiros defensores desse metro e o primeiro a usá-lo em uma tradução, o metro acomoda bem a disposição das palavras latinas, sem omissões ou acréscimos excessivos. Para nós, trata-se de uma característica central, pois cremos no verso como unidade de sentido relevante da poesia: tanto quanto possível, e na medida do que é cabível em nossa idioma, a disposição dos termos no verso, a forma como a informação vai sendo progressivamente construída, sua sonoridade, as figuras, tudo isso deve ser pensado pelo tradutor. Na poesia satírica, um pretenso descuido das questões formais (pretenso, insisto, pois os textos satíricos são muito bem acabados) se reflete nessa organização do texto que imitamos na tradução, ainda quando o resultado pareça incômodo nos padrões de versificação vernácula.

Tratamos um pouco mais detidamente de nossas escolhas no prefácio às Sátiras de Pérsio. Para lá remetemos o pesquisador mais minucioso. Aqui aplicamos o que aprimoramos ali.
Fábio Cairolli


2 de junho de 2020.

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