versos 64-71

Fogem com pressa de quem conta as evidências
Os estóicidas, mas... Larônia mente? E o que
Outros não fazem, se usas um véu transparente,
Crético, e nessa roupa em frente ao povo advogas
Contra Polita e Prócula? Fabula trai;
Também condene, quem quiser, Carfínia: toga
Não use a condenada. "Mas julho se inflama,
Eu queimo." Advoga nu: ser louco é menos torpe.

fugerunt trepidi uera ac manifesta canentem
Stoicidae; quid enim falsi Laronia? sed quid     65
non facient alii, cum tu multicia sumas,
Cretice, et hanc uestem populo mirante perores
in Proculas et Pollittas? est moecha Fabulla;
damnetur, si uis, etiam Carfinia: talem
non sumet damnata togam. 'sed Iulius ardet, 70
aestuo.' nudus agas: minus est insania turpis.


Volta a voz de Juvenal ao fim do discurso de Larônia. Os apedrejadores de plantão fogem diante da denúncia de suas torpezas. O poeta, como se não fosse ele próprio o autor da voz de Larônia, faz coro a ela como se fosse mais um rosto da multidão presente. E faz isso por meio de perguntas retóricas (por acaso é mentira?) e pela introdução de um novo exemplo, Crético.

É de notar aqui a ironia do termo grandiloquente com o qual Juvenal nomeia o grupo: estóicidas. O procedimento é o mesmo de Pérsio ao nomear os romanos tróades no começo da primeira sátira.

Chamo atenção também para o efeito de suspensão provocado pelo enjambement entre os versos 55-56, que tentei recriar na tradução.

Crético, o novo exemplo, interpelado em segunda pessoa pelo poeta, é ainda pior do que as pessoas arroladas até o momento. Ao que parece, Crético é um orador, mas nada se sabe de certo. Subentende-se que advogou contra mulheres submersas adúlteras, ou que fosse uma das vozes moralistas que estava se levantando naquele instante. O nome indica uma posição social privilegiada. Sob o pretexto do calor do verão, contudo, esse moralista vocifera contra as tais mulheres usando uma roupa um tanto imoral, a multicia, espécie de túnica transparente, veste ideal para a sedução. Ocorre aqui uma inversão curiosa: Crético usa a roupa das adúlteras; essas, quando condenadas, eram obrigadas a usar toga, a roupa que um orador como Crético deveria estar usando. Por isso Juvenal desautoriza a pena proposta por ele, ao mesmo tempo que sugere a Crético advogar sem roupa. Nessa condição, parceria apenas louco; seria menos feio que parecer o devasso que ele está parecendo no momento. 

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