Versos 51-57
Acaso a gente advoga, conhece o direito
Civil ou dá um único pio nos seus fóruns?
Poucas brigam ou comem as coxas com ossos:
Vocês cardam a lã e de fios prontos enchem
Cestos, e ao mover leve agulha em fértil fuso
Penélope é vencida e Aracne é menos tênue,
Qual torpe concubina sentada no tronco.
Numquid nos agimus causas, civilia iura
novimus, aut ullo strepitu fora vestra movemus?
luctantur paucae, comedunt colyphia paucae:
vos lanam trahitis calathisque peracta refertis
vellera, vos tenui praegnantem stamine fusum 55
Penelope melius, levius torquetis Arachne,
horrida quale facit residens in codice paelex.
O próximo argumento de Larônia envolve a inversão de papéis. Segundo ela, as mulheres não se metem em afazeres masculinos, tais como defender causas, a assembleia política, os combates e o último, mais curioso, não comem o colyphium.
Esse é um termo curioso, derivado do grego kolê, que significa um pedaço de carne, usualmente a coxa, acompanhado do osso. Então, como hoje, é um alimento que parece estar associado às brutas expressões de masculinidade. É um termo de baixa frequência em latim: além do uso por Plauto, a outra ocorrência, significativamente, é em Marcial, num dos raros poemas que descrevem uma mulher de comportamento masculinizado: entre seus comportamentos viris se arrola justamente o consumo de colyphium. Esse poema, aliás, contradiz todo o argumento de Larônia, e nos recorda que em um e outro trata-se de discurso poético, ficcional portanto, não devendo ser invocado como testemunho histórico sem uma mediação delicada.
As mulheres não ocupam espaços masculinos, mas o contrário ocorre: homens tecem com lã da mesma forma que a mais desprezível concubina, e ainda se acreditam melhores que as melhores tecelãs do mito, tais como Penélope e Aracne.
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